sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Ser... ou não ser...

Nesse dia, enquanto todos pensavam em mascarar-se, Gabriel decidiu ser ele próprio. Ninguém suspeitaria que assim era, pois a sua conduta habitual era insuspeita.
Despiu o fato de burocrata, arrancou a gravata num lampejo de libertação, e mirou-se ao espelho.
A natureza enganara-se. Colocara-o num invólucro desajustado em relação à sua alma. Condenara-o a viver aprisionado em si próprio.
Havia já técnicas médicas para contornar esse malogrado engano, mas... o que diriam os outros? O seu autoritário pai? A sua superprotetora mãe? Os seus inocentes filhos?
Não! Definitivamente não tinha coragem de assumir a sua verdadeira identidade... A não ser no Carnaval, em que tudo é permitido, em que a fantasia reina e a boa disposição impera.
Vestiu o vestido justo, calçou os sapatos de salto alto, penteou e colocou a peruca, e alegrou o rosto pálido com pinturas exuberantes.
Sorriu. Agora sim era ela... Gabriela.

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