sábado, 31 de março de 2012

Sab(ed)or(ia) popular

Diz o povo que há muitas formas de matar moscas, e eu transfiro a asserção para a cozinha - descansem! Esta não é uma qualquer sofisticada receita oriental de moscas fritas! Se há coisa em que sou nacionalista e tradicionalista é na cozinha. A cozinha que aprecio é portuguesa e simples, cheia de odores, cores e sabores, e a receita que trago hoje é uma das minhas preferidas: arroz de pato.
O que "as moscas” do povo têm a ver com o assunto, é que há muitas formas de cozinhar a mesma coisa. Eu própria fazia esta receita de outra forma, mas esta é, sem dúvida, mais simples e permite um resultado mais saboroso.
Começo por - perdoem-me os mais púdicos! - despir o pato da sua pele. Bem sei que a gordura daria sabor ao arroz, mas não estou para sacrificar o mal que me faz pelo bem que me sabe!
A natureza é sábia: para garantir a impermeabilidade da pele deste anfíbio, esta é muito grossa e gordurosa... E muito colada ao músculo, o que dificulta a operação... Mas já está!
Entretanto, corto um bom chouriço beirão às rodelas e um naco de bacon aos cubinhos.
Num tacho, coloco (o sempre presente!) azeite e deixo aquecer. Acrescento cebola e alho picadinhos e deixo estrugir um pouco, para logo juntar os enchidos. Aprecio o delicioso aroma que se desprende, e quando os sabores se misturaram com o azeite, retiro os enchidos.
Coloco então o pato despido e aos pedaços, para que ganhe cor e, uma vez selado, guarde só para si os seus sucos. Reduzo o lume. Tempero com sal, pimenta preta e açafrão, para que o arroz ganhe um tom dourado. Tapo e deixo estufar lentamente... Passado algum tempo, embriago o pato com um pouco de vinho branco, e volto a tapar.
Quando o pato estiver tenro, tiro-o do tacho e deixo arrefecer até poder desfiá-lo.
Pronto o pato, parto para o arroz!
Volto a deitar os enchidos no tacho e acrescento a água necessária para fazer um arroz seco. Quando a água ferver, entra em cena o alvo arroz agulha. Deixo cozinhar lentamente, e corro a desfiar o pato, para logo juntá-lo aos demais ingredientes.
Finalmente, coloco o arroz numa terrina de barro bem portuguesa - ou, à falta dela, fazendo jus ao desenrascado espírito tuga num pirex. Cubro com queijo ralado e levo ao forno, para secar o arroz e gratinar o queijo.
Meninas casadoiras, prestem atenção: o homem conquista-se pelo estômago... não pelo coração!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada por enriqueceres o meu petisco com as tuas deliciosas palavras...
Se, por qualquer motivo técnico, não conseguires publicar aqui o teu comentário, envia-o para petiscosdeletras@gmail.com